Kinha Costa |
SINDROME DO NINHO VAZIO
Quando cheguei à Holanda, vindo dessa cultura brasileira onde os filhos ficam mais tempo em casa, e achando a Holanda moderna, pensei: - É o máximo os filhos saírem de casa cedo pra irem cuidar da vida!
Nesse
tempo não tinha filhos e também não tinha planos de tê-los. Uma
vez ouvi uma amiga, casada com um holandês, dizer sobre o marido:
-
As mães holandesas largam os filhos pro Estado cuidar e o resultado
é homens imaturos e dependentes!
Guardei
essa conversa e hoje, anos depois, estou aqui matutando exatamente
porque agora sou mãe de duas jovens adolescentes. E como é difícil
deixá-las ir. Procurei criar minhas filhas pro mundo. Sabendo e
achando muito natural que um dia elas se irão cuidar de suas vidas.
Mas,
esse dia sempre me pareceu muito distante. Pois vos digo: chegou! A
minha filha mais velha, de 17 anos, se foi pra residência
universitária. A minha mais nova, de 14, encontra-se na Índia,
fazendo intercâmbio cultural.
Tudo
muito discutido, combinado, detalhado, desejado, civilizado... Só
não sei explicar esse vazio que tomou conta da minha alma. Esse
buraco escuro onde perdi de vista o brilho dos meus olhos. O tic tac,
descompasso do meu coração, a qualquer trim da invenção de Gram
Bell.
Meu
Deus, até pouco tempo atrás eu era a companhia, o transporte, a
mesa posta, a palavra final, agora sou ignorada, dispensada,
esquecida, descartada, agradecida com desleixo e, muitas vezes, causa
de constrangimento. Sinto-me um fio dental usado, lencinho de papel,
pra não ser drástica e dizer: papel higiênico.
A
mais velha, quando foi pra residência de tão excitada ficou rouca.
Mal dormia e comia. Só falava, fazia novas amizades, estudava (?) e
ia à festas saboreando a liberdade de ser dona do nariz.
Eu,
mãe moderna, tentando usar minhas cartas pra ficar na linha de
montagem da sua vida, peguei os números dos telefones das boates e
discotecas legais da cidade. Dei-lhe a novidade, achando que ela iria
vibrar e dizer “que legal, mãe!” Falou com ar enfadado:
-
Conheço basicamente todas!
Nos
seus primeiros dois meses de vida nova, foi um silêncio total: bem
que ela podia me dar um telefonema, pensava. Ou atender meus
telefonemas, responder minhas mensagens. Nada! As desculpas variavam.
Eu sabia que a excitação era grande. E ela não pensava que eu me
corroía de preocupação.
Os
jovens não pensam nisso. Para o jovem é tudo tão eterno! Ninguém
é morrível, pensava lembrando de mim, na mesma idade, e morrendo de
remorso pelas noites mal dormidas que causei.
Outro
dia recebi um desses textos brilhantes que circulam na internet, que
dizia na sua essência: a gente só aprende a ser filho quando é pai
e a ser pai quando
é
avô. Eureka! Pensei pedindo desculpas a minha mãezinha e ao paizão.
Somente agora, que sou mãe, entendi. Pena, eles não puderam
esperar o meu tempo!
Poxa,
espero que as minhas meninas se dêem conta, antes da minha última
viagem. Na verdade, não quero prendê-las, segurar os cabaços,
aliás, ser guardião de virgindade é trabalho que não me cai muito
bem - ou proibi-las. Quero somente saber se está tudo bem, conhecer
os amigos, se o motorista da vez não vai beber, dizer mais uma vez
pra tomar cuidado com os documentos, a carteira, o telefone, a
bebida, as drogas.
Droga!
É a droga da preocupação!
Como
é difícil não perder a calma diante de atitudes inconsequentes
juvenis! Duro controlar a voz cara a cara com o berro explosivo da
malcriação. O eco do bater de portas iradas. Olhar de pouco caso.
Revirada de olhos - falo sempre: se a lua passar diante do sol, a
virada é pra sempre! O lá, lá, cantarolado enquanto o verbo é
gasto. Dificílimo respeitar limites e acordos. Não atropelar.
Deixar espaço pro filho se expressar. Guiar sem impor. O livre
arbítrio. Deixá-los irem pra tê-los inteiros.
Penso
na minha geração que passou ou está passando por isso, mas ninguém
fala muito sobre o assunto. O Máximo que ouço é: difícil ter
filho adolescente!
Vocês
que tem filhos crescendo e que vão chegar lá ou que já chegaram, o
que acham desta questão? Participem. Vamos conversar
“Criando
Adolescentes” é um livro que tem me ajudado bastante – Michael
Carr-Gregg & Erin Shale.
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